
Sobre Conversas Difíceis, mas Necessárias
Acompanhar uma pessoa querida num processo grave de adoecimento pode ser muito desafiador. Algumas vezes, o período de acompanhamento é longo, doloroso e causa um cansaço que vai se acumulando. Corpo, mente e coração chegam ao limite.
Um corpo muitas vezes cansado pelo esforço, por noites mal dormidas, má alimentação, entre tantas outras coisas. Uma mente sobrecarregada de preocupações, decisões a serem tomadas, consultas que não podem ser esquecidas, remédios a serem administrados. E um coração que bate ao ritmo de um turbilhão de emoções, diante da iminência da perda da pessoa amada.
E chega o dia em que a pessoa amada morre.
Instantes após receber a notícia, ainda em meio aos prantos e agora frente ao desafio de lidar com o luto concreto, começam a chegar demandas externas, questões burocráticas da vida que segue:
Avisamos quem? Onde será enterrado? Que cidade? Qual cemitério? Tem plano funerário? Ou será cremado? Onde está o RG, a certidão de nascimento e casamento? Tem jazigo? Quem busca a roupa? Que roupa?
Fadigados pelo período que antecedeu a morte e agora envoltos em dor e sofrimento pela perda, quem estará em condições de raciocinar e responder a essas perguntas que no momento parecem tão surreais? O corpo que parece que foi atropelado por um trator? A mente que ultimamente anda tão lentamente? Ou o coração partido como está?
Essa introdução é para falar sobre a importância de se conversar sobre a morte. Podemos fazê-lo em qualquer circunstância, no entanto, diante de uma doença ameaçadora da vida, essa conversa é imprescindível.
De fato, não é uma conversa fácil e não falar sobre a morte pode parecer uma boa ideia, especialmente em nossa cultura que, por exemplo, "bate três vezes na madeira" quando diz ou escuta tal palavra.
Porém, abrir espaço para este diálogo, tem caráter preventivo e pode ajudar a família a atravessar os primeiros momentos do luto, de maneira menos desgastante e atribulada, podendo dirigir sua energia para seus rituais de despedida.
Muitos assuntos importantes podem ser conversados sobre a morte e o morrer, desde questões práticas a dilemas existenciais, e não iremos, de forma alguma, esgotar esse tema neste texto por ser de tamanha complexidade. Escolhemos, neste momento, trazer luz para as questões burocráticas que “atropelam” o enlutado quase que imediatamente após a perda.
Sendo assim, orientamos que se encorajem e criem oportunidades para conversar certos assuntos e, aos poucos, tomar providências, tais como:
- Organizar os documentos, montar uma pasta e colocar alguém responsável por esta guarda;
- Informar-se se há plano funerário e quais as condições do plano;
- Tomar nota de dados bancários e fazer procurações, se for o caso;
- Eleger quem pode ser responsável pelos trâmites de atestado de óbito, velório e enterro;
- Ter conversas com a pessoa querida sobre últimos desejos acerca de roupas e rituais;
- Criar uma rede de apoio com que contar nos primeiros momentos e dias de seu luto;
Enfim, conversem e se preparem para responder às demandas que naturalmente surgirão porque essas questões parecerão tarefas de Hércules para resolver quando se estiver enlutado.
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