“Essa dor é psicológica”
Se você é um(a) profissional de saúde de outra área que não a psicologia e, por não encontrar uma causa biológica para a queixa do paciente, diz que sua dor é "psicológica", saiba que essa fala pode ser escutada, por quem você cuida, diferente de sua intenção.
Essa expressão "dor psicológica" pode chegar para o(a) paciente como uma desconfiança acerca de sua queixa. Isso se chama deslegitimação do sofrimento.
Quem está sentindo a dor, pode escutar: que é frescura; que é invenção; que é fraqueza; que é exagero; que é loucura.
A questão é que nem sempre estamos presentes no que dizemos ao outro e não nos damos conta de que nossas palavras, que também são uma forma de cuidar, podem gerar desamparo a quem sofre.
Dizer que uma dor "é psicológica" é negar o que a pessoa está identificando no corpo e minimizar o sofrimento psíquico/emocional, que acompanha a doença biológica, imponto o silêncio ao que já é tão difícil de ser expressado.
É fazer com que a luta contra o preconceito em torno da saúde/doença mental ande dez casinhas para trás. Torna mais difícil o que já é tão desafiador: desconstruir os tabus tão cristalizados acerca do sofrimento psíquico/emocional.
No lugar de dizer que “é psicológico”, você pode perguntar como a pessoa se sente em relação à sua dor, quais preocupações estão associadas ao seu sofrimento, explicar que todo adoecimento acarreta sofrimento psíquico e que cada forma de dor merece ser cuidada, para promover um cuidado ampliado.
E não diga que o/a paciente está “potencializando” a dor. Não culpe a vítima pelo sofrimento que sente.
Toda dor é total. Todo cuidado é total É da totalidade humana que se trata.
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